Por Natan Dalprá Rodrigues
Certa noite, o fraterno Nícolas Wagner e eu devaneávamos acerca da estreia do Aimoré na Série D. Deixando de lado, por um instante, a imersão técnica que as transmissões da Rádio Índio Capilé sempre fazem conosco, a charla era sobre o quão precioso é este momento do clube e como passou rápido, afinal parece que ontem estávamos projetando como joga o São Gabriel e, hoje, nossas especulações são sobre quem é o volante do Marcílio Dias ou o novo centroavante do Cascavel.
Depois desta breve digressão, meu prezado parceiro germânico sugeriu da maneira mais objetiva possível: “bah meu, faz um texto sobre a estreia, mete aquelas tuas misturas de crônicas com narração e tal”. Com esta indução, me senti quase coagido (risos) a lançar mão de algumas linhas sobre as muitas nuances que esse embate contra o Marinheiro de Itajaí traz.
Fazendo um recorte bem específico, volto ao dia 07/09/2012 (Atlético de Carazinho x Índio, Terceirona daquele ano). Naquela tarde de feriado pátrio, este que vos escreve estava atrás de uma das goleiras do Estádio Paulo Coutinho. Junto a outros aimoresistas, acompanhamos àquela batalha campal que foi o final do jogo, com direito a espetos, canos pvc e abertura de Boletim de Ocorrência na Delegacia carazinhense. PS: cumpre a mim fazer o registro que um torcedor do Atlético se dirigiu a mim e a Erick Franja Motta como: “Seus ladrão de carro da Feitoria”. Sim, isso mesmo.
Bueno, explico a vocês o porquê de ter voltado àquele jogo e não a tantos outros, o fiz em razão das gigantescas consequências que esta contenda trouxe para minha vida. Tentando ser breve, nesta época, eu escrevia para o saudoso Site Toda Cancha e, em razão disso, meu futuro amigo Luis Fernando Fracasso (a quem sou eternamente grato) me convidou para participar da programação da Rádio Progresso como convidado e, um pulo depois, para ser produtor e plantão de jornadas. Sim, graças a toda aquela balbúrdia lá de Carazinho estou nessa cachaça chamado de comunicação.
Ao retornar para junho de 2021, vejo quantas coisas mudaram na minha vida. Nove anos depois, os cabelos cresceram, a barba apresenta fios brancos, concluí a graduação - passei na maledeta prova da Ordem – fiz o curso de radialista, tenho uma namorada espetacular, sou responsável por um escritório de cunho jurídico e um dos artífices por levar adiante o projeto genial, desenvolvido, à época, em conjunto pelos parceiros do NJA: uma rádio absolutamente feita por aimoresistas para aimoresistas que transmite até jogo-treino.
Se na minha caminhada as alterações foram inúmeras, o que dizer então do Clube Esportivo Aimoré? Este jovem senhor de 85 anos é agora um clube com pretensões NACIONAIS. E para alguém que, desde o jogo contra o Garibaldi, ocorrido também lá em 2012, está este tempo todo – ininterruptamente, mesmo em diferentes veículos, aos quais sou muito agradecido - também na lida radiofônica/cibernética é algo imensamente especial.
As condições complicadas de Rio Pardo, Tramandaí (pior estádio), Camaquã e afins forjaram essa casca que o Índio formou. E a coisa é tão maluca que, como bem denota o DVD, em 259 dias, o clube foi guindado à Série A. No ano do seu octogenário caiu, fomos a uma final de Copa FGF, jogamos Copa do Brasil, Série A de novo e cá estamos rumo a um CAMPEONATO BRASILEIRO.
Digo sempre que sou um enorme privilegiado por poder ter o microfone da Rádio Índio Capilé à mão e poder contar a vocês essa sucessão de feitos que o maior clube do nosso mundo vem obtendo. Apontavam-me que a função como homem de imprensa me faria ser menos torcedor, tolo engano, esse amor aumentou em sei lá quantas trilhares de vezes e é quase surreal pensar que estamos planejando como faremos a logística e a cobertura – in loco e bem louca – em Jaraguá do Sul, Cascavel e afins.
Não sei vocês, mas a placa azul com a logomarca oficial da Série D, a sede administrativa com uma loja e um museu belíssimos, o mastro imenso que faz com que nossa bandeira tremule para São Leopoldo ver (aliás, obrigado, de público, Fábio), todas estas situações me emocionam absurdamente. Sei lá se isso é pensar pequeno ou não, todavia isso pouco importa. Afinal, um poeta disse que: “Somos quem podemos ser”.
Vocês e eu, a partir de amanhã, viveremos essa viagem pelo Brasil. Vamos desfrutar desse momento, gente. Lamento demais que nossa torcida não possa se fazer presente, porém nem preciso relembrar o período de enfermidade que se apresenta em todo o planeta, então mais do que nunca, é a energia positiva que vai embalar Denoni, Pablo e Neto Baiano por aí. Que seja a mesma que tanto alentou (e corneteou) Bruno Sá, Marquinhos e Lucas Silva. Afinal, seja Carazinho ou Cascavel, o Aimoré, nas tribunas de imprensa ou na arquibancada, nunca jogará sozinho, até porque conosco ninguém acaba.
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Caro Natan: algo triste após o um a zero em Joinville, mas ainda muito confiante pela grande vitória da estreia, fui olhar as notícias da Rádio que admiro desde que a conheci. Encontrei esse seu texto que aumenta a confiança por trazer o conhecimento maior desse Clube que amo desde que o conheci,através de um grade amigo, logo ao chegar ao Rio Grande Sul. Naquela época, década de 50 do século passado, nossos adversários reais eram o Força e Luz, o Nacional, o Cruzeiro e o Novo Hamburgo que vocês justamente chamam, agora, os do outro lado do rio, como nós fomos durante muito tempo. Um abraço. E obrigado por fazer a maluquice dessa Rádio.