Por Nícolas Wagner
Tenho bem viva na memória a lembrança da Páscoa de 2006. Então com 7 para 8 anos, passei o feriadão como de praxe quando meu avô paterno ainda era vivo: sexta-feira santa e sábado em Teutônia, na família da mãe, e domingo em Santa Cruz do Sul, na família do pai.
Após o tradicional churrasco do domingo, o pai e a mãe decidiram voltar cedo de Santa Cruz para evitar o congestionamento de final de feriadão. Mas não adiantou muita coisa. Mesmo à tarde, a BR-287 estava bastante trancada. Para piorar, entre tantos acelera/freia, um carro nos atingiu, ainda que levemente, na parte traseira.
Na época, o Aimoré ainda engatinhava no seu retorno ao futebol profissional após quase uma década licenciado. Em geral, os resultados naquele ano foram pífios. Na 1ª fase da extensa Segundona Gaúcha, então com 30 clubes, o Índio conquistou apenas uma vitória em 12 jogos. Ainda assim, o regulamento previa a disputa de uma repescagem, pela qual o alvi-azul leopoldense entrou em campo no domingo de Páscoa contra o Brasil de Farroupilha, no Cristo Rei.
Mesmo que ainda não tivesse ido ao nosso estádio assistir a uma partida, o que faria pela primeira vez mais tarde naquele ano, eu já acompanhava freneticamente o Aimoré, através das matérias no Jornal VS e das transmissões da antiga Rádio Progresso 1530 AM. Achava incrível ter um time de futebol profissional na minha cidade. Lembro-me de implorar tanto para meus pais comprarem uma camiseta do Índio, que eles, acho que de saco cheio pela insistência, me deram tanto a azul quanto a branca, além do calção de jogo azul.
Voltando ao incidente no trânsito, enquanto aguardávamos os trâmites na beira da estrada, fiquei dentro do carro ouvindo Aimoré e Brasil de Farroupilha pela Progresso. Talvez por ainda não conhecer pessoalmente o estádio e os jogadores, somado à magia do rádio, que passa emoção e ajuda a aguçar a imaginação do ouvinte, aquelas transmissões, para mim, eram fascinantes. Tanto é que, naquele momento, de forma ingênua, egoísta, mas compreensível para uma criança já apaixonada por futebol e pelo Aimoré, pouco estava me importando com a aflição dos meus pais por conta dos reparos que teriam que ser feitos no carro.
Naquela tarde, o Aimoré venceu uma de suas poucas partidas no ano, dando inclusive a ilusão (palavra bem constante no vocabulário aimoresista, né?) de que poderia se recuperar e classificar para as fases finais. 1 a 0, gol de Jocenir no 2º tempo. Recordo-me bem do relato, na transmissão, da comemoração dele, de joelhos agachados, no centro do gramado, agradecendo aos céus. No dia seguinte, a foto da cena estampando o Jornal VS materializou minha imaginação.
É uma história singela, talvez até boba. Mas aquele 16 de abril de 2006, tão bem guardado na minha mente, tem um significado ainda mais especial considerando o que irá acontecer no Domingo de Páscoa que se avizinha, 17 de abril de 2022.
16 anos depois, muito mais estruturado (mais ainda com apoio aquém do que merece), o Aimoré estreia em sua segunda Série D consecutiva. O jogo contra o Marcílio Dias tem o peso extra de ser o primeiro de um Campeonato Brasileiro, no Cristo Rei, com torcida - resquício da pandemia. E terei, juntamente com meus parceiros(as) Eduardo Souza, Natan Dalprá, Ema Roza e Letícia Sechini, a oportunidade e a responsabilidade de contar essa história nos microfones da Web Rádio Índio Capilé, que se tornou referência na cobertura do nosso Índio.
Quem sabe consigamos, nessa caminhada que se inicia, e na qual nos comprometemos a estar ao lado do Aimoré presencialmente em todos os jogos, cativar não só jovens aimoresistas como o Nícolas de 7 anos de idade, mas capilés de todas as idades. Será uma caminhada árdua, com grandes desafios, em que São Leopoldo terá mais uma oportunidade ímpar para abraçar o clube da cidade, o qual jamais deixaremos jogar sozinho.
Foto: Ageu Photos
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Belas recordações. Ilustram muito bem parte da história do Índio neste século e a paixão saudável que pode gerar nos entusiastas.
Show 😔⚪🏹⚽👏👏👏